sábado, 3 de setembro de 2011

Perigo no plástico



Disponível: www.saude.abril.com.br/edicoes/0333/medicina/perigo-plastico

Em contato com os alimentos, algumas embalagens liberam o bisfenol-A, substância suspeita de provocar sérios estragos no organismo — de infertilidade a câncer. Não à toa, ela virou foco de acusação nos tribunais da ciência dos quatro cantos do planeta
por ADRIANA TOLEDO design THIAGO LYRA foto ALEX SILVA


A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia — Regional São Paulo reuniu no final de 2010 cerca de 80 pessoas, entre médicos e autoridades públicas, para debater e divulgar informações sobre um tema preocupante: a interferência de certos componentes químicos — com destaque para o bisfenol-A — no funcionamento hormonal. O sinal de alerta soou depois que pipocaram estudos associando a substância a aborto e malformação do feto e ao desenvolvimento de doenças como endometriose, câncer de mama, infertilidade, disfunção da tireoide e até diabete.

“Presente no revestimento de latas, em embalagens e utensílios plásticos e até em alguns tipos de mamadeira, o bisfenol-A ganha o corpo pela boca e, no organismo, atua nos receptores do hormônio feminino estrogênio, simulando sua função”, esclarece a SAÚDE! a endocrinologista Marise Castro, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem- SP). E aí, claro, o desequilíbrio se instala. Ainda não há provas definitivas para condenar os recipientes que liberam bisfenol-A. Por via das dúvidas, uma série de empresas multinacionais vem tomando providências para banir o composto potencialmente nocivo de seus produtos. “Acionistas da Coca- Cola pediram, recentemente, explicações sobre a presença da substância em suas latas. Já a Nestlé, a Heinz e a General Mills anunciaram que vão retirá-la de seu processo de fabricação no prazo de três anos”, comenta Carlos Thadeu de Oliveira, gerente de informação do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). “Além disso, o Canadá, a Dinamarca, a França e os Estados Unidos proibiram o bisfenol-A em artigos para crianças”, acrescenta.

No Brasil, por enquanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permite a liberação limite de 0,6 miligrama por quilo de material plástico. “A maioria dos experimentos que apontaram malefícios do bisfenol- A foi feita com animais por injeção subcutânea ou intravenosa”, afirma o químico Peter Rembischevski, especialista em regulação e vigilância sanitária da Anvisa. “Ainda desconhecemos as consequências em seres humanos decorrentes da administração por via oral durante a alimentação”, continua.

A grande preocupação dos especialistas é o consumo cumulativo de bisfenol-A, já que são inúmeros os alimentos disponíveis no mercado embalados com materiais que desprendem a substância. “Sem falar nos filtros de água e outros objetos”, lembra Rembischevski (veja quadro à direita). “Por esse motivo, o Idec apoia o banimento do composto até que se comprove sua inocuidade”, reforça Oliveira. Enquanto isso não acontece, cabe à população reduzir ao mínimo o contato com essa ameaça. Ficar atento a embalagens, utensílios domésticos e orientações de uso auxilia, e muito, a tarefa de prevenção.

Se o componente em questão é suspeito de fazer mal à saúde de todo mundo, existe um grupo ainda mais vulnerável aos seus efeitos danosos: o das gestantes. “O bisfenol-A se concentra cinco vezes mais no líquido amniótico da grávida”, avisa o endocrinologista Francisco D’Abronzo, da Faculdade de Medicina de Jundiaí, no interior paulista. “A substância pode prejudicar o desenvolvimento sexual dos meninos, provocando malformação de sua genitália”, exemplifica Marise Castro. Há ainda a hipótese de que ela esteja por trás de hiperatividade em meninas, especialmente quando a mãe é exposta ao bisfenol-A no primeiro trimestre de gravidez.

Quem pretende ter filhos também é vítima em potencial desse agressor. “Sua ação estrogênica favorece o desenvolvimento de endometriose”, diz Marise. Trata-se do crescimento anormal do tecido que reveste o útero — o endométrio — fora dessa cavidade, o que dificulta a gestação.

Pessoas com histórico familiar de problemas de tireoide e mulheres com parentes de primeiro grau que tiveram câncer de mama também precisam redobrar a precaução. “O bisfenol-A tem uma estrutura parecida com a da tiroxina, o hormônio tireoidiano. Por isso, uma vez consumido, pode desregular a glândula”, justifica Marise. “E, por agir como estrogênio, desconfia-se de que o composto esteja envolvido no tumor mamário”, completa.

“Há ainda estudos que apontam o bisfenol-A como um dos responsáveis por uma lista extensa de complicações que inclui alterações no tamanho da próstata e nos ovários, puberdade precoce no sexo feminino, diabete tipo 2, doenças cardiovasculares e obesidade”, acrescenta Peter Rembischevski. Dificilmente conseguiremos nos livrar por completo desse inimigo no dia a dia enquanto a indústria não o abolir de suas embalagens e seus produtos. A boa notícia, porém, é que é possível reduzir a ingestão com alguns cuidados na hora de armazenar, servir e preparar alimentos (veja quadro abaixo). A prevenção começa no supermercado, na hora de comprar utensílios, e continua no momento de saborear uma refeição. Sua saúde agradece!


Disponível: http://saude.abril.com.br/edicoes/0283/familia/conteudo_218619.shtml

Brinquedos: preste atenção neles

Brincadeira perigosa
O patinho que acompanha seu bebê no banho pode não ser tão inofensivo quanto aparenta. Substâncias como o ftalato e o bisfenol, muito utilizadas na fabricação de brinquedos macios de plástico, causam intoxicações.
por Thais Szegö | design Robson Quinafélix | fotos Dercílio


Nos países da União Européia, ftalato e bisfenol foram simplesmente banidos das indústrias de brinquedo. Após discussões acaloradas entre os países do Mercosul, a Argentina resolveu igualmente suspender seu uso. No Brasil por enquanto não existe nenhuma restrição à dupla. "Por aqui não há lei que proíba seu emprego nos produtos de plástico destinados à criançada", afirma o engenheiro químico Mariano Bacellar, do Instituto Brasileiro de Qualificação e Certificação, fundado pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos, a Abrinq.

Mesmo sem nenhuma ordem oficial, algumas indústrias nacionais acharam por bem substituir a dobradinha de componentes por outros aditivos. E quem ainda a utiliza deixa isso bem claro no rótulo dos brinquedos — o que é ótimo. As acusações contra as duas substâncias são graves. O ftalato estaria envolvido com alterações nas glândulas, causando diversos distúrbios hormonais. Ele serve para amaciar e tornar maleável o PVC, o tipo de plástico usado na maioria dos brinquedos para bebês e nas bonecas.

O bisfenol, por sua vez, tem a propriedade de deixar o plástico, apesar de macio, mais resistente a mordidas e outras investidas. Recai sobre ele a suspeita de favorecer a obesidade e até alguns tipos de câncer. O outro lado dessa história, vale frisar, é que grande parte das pesquisas foi feita em animais. Aquelas que envolveram seres humanos avaliaram o efeito direto das substâncias sobre o organismo, mas não o da sua aplicação em brinquedos, quando elas já estão quimicamente modificadas.

"É como no caso dos copos descartáveis de polietileno", compara o toxicologista e pediatra Sérgio Graff, diretor da Clínica Toxiclin, em São Paulo. "O etileno, a sua matéria-prima, pode provocar problemas. No entanto, quando ele é transformado em polietileno, o risco desaparece", diz. A enfermeira Maria de Jesus Castro Sousa Harada, do Núcleo de Estudos da Criança e do Adolescente da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp, concorda: "Não há trabalhos conclusivos sobre a ação tóxica dessas substâncias nos brinquedos", afirma. "

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